sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Chamanculo, o conquistador


Um conquistador. Essa foi a simples definição de um amiga, quanto pedi-lhe a opinião sobre o lugar em que nasceu e cresceu, o Chamanculo. Hoje, mesmo convivendo há pouco tempo com o bairro, posso dizer que entendo perfeitamente o que ela quer dizer.

Confesso porém, que não foi essa a primeira impressão que tive quando cheguei ali pela primeira vez. O estigma de feio, pobre e perigoso, que tanto tinha ouvido, só se confirmava ao primeiro contato. A má fama, se da ao fato dessa ser hoje uma das comunidades mais pobres e sem estrutura da capital moçambicana.

Bairro do Chamanculo em mais um dia de enchentes

Porém, não demorou nada para que minha opinião começasse a mudar. Com o tempo e a ajuda da ASSCODECHA, instituição para onde tenho trabalhado de forma voluntária, toda aquela pobreza e o suposto perigo foram se transformando em uma beleza, na qual qual poucas vezes vi igual.

Beleza essa que não deriva de paisagens, praias ou coisas que costumamos achar bonitas por ai. O que me conquistou de verdade foram as pessoas da comunidade.

Certamente não posso ignorar a pobreza e nem mesmo a violência que ali existe. O encantamento que ganhei pelo lugar não elimina o fato de que crimes continuam a existir, como em qualquer periferia. Portanto, é preciso manter a atenção. Câmera, celular ou qualquer item que possa chamar atenção de bandidos devem permanecer escondidos. Principalmente quando se anda sozinho por aquelas vielas.

No entanto, grande parte da gratidão que já tenho pelo Chamanculo, posso dizer que devo à ASSCODECHA.

Ativa no bairro há 12 anos, a instituição é financiada pelo governo finlandês e oferece à comunidade serviços assistenciais nas áreas em que mais se faz necessário. Saneamento básico, Educação, apoio à Juventude e Formação profissional. Eu, como não tenho um cargo definido ali dentro, ajudo como posso. Passo grande parte do meu tempo com as crianças (ensinando e aprendendo) e também faço vídeos que mostram a realidade da comunidade e a forma em que a ONG interfere na vida daquelas pessoas. Para um futuro próximo, prefiro acreditar que esses vídeos poderão ajudá-los na angariação de fundos, parceiros ou ativistas.

Workshop de comunicação 
Além disso, novos projeto estão sempre surgindo para me deixar ainda mais empolgado. O último deles, no qual tive o prazer de ajudar, foi o workshop de comunicação. A ideia é ensinar adolescentes sobre a importância de transmitir uma informação de forma eficiente. Seja por vídeo, foto, texto, rede social ou mesmo verbalmente, tentamos mostrar que a comunicação tem o poder de expor a comunidade ao mundo e, quando preciso, de trazer ajuda para o bairro. 

A tarefa é desafiadora, considerando que muitos dos jovens nunca tocaram em um computador, mas ao fim dos treinamentos, a missão será iniciar um processo de troca de informações com um grupo de adolescentes da mesma idade na Finlândia.

Se estou sendo útil ou não para aquelas crianças e adolescentes, essa é uma resposta que não terei tão cedo (se é que terei). Mas uma coisa é certa, tamanha troca de energia e informação é claramente saudável para ambas as partes.

O motivo de tanto carinho, não é difícil de explicar. Ali meu nome passou, de Rodrigo Facundes para "Tio Rodrigo", e por onde quer que eu ande, escuto crianças me chamarem como se já estivessem com saudades e contando as horas para me ver de novo. Cada um dos cumprimentos, eu faço questão de responder com um sorriso enorme, que sai do meu rosto sem precisar de nenhum esforço. 

Tanto afeto me faz pensar que crianças carentes não precisam só de dinheiro, educação e comida. Não quero diminuir a importância de nenhum desses elementos, mas muitas vezes, tudo o que eles querem de você é o seu carinho e atenção.

Além de toda a interação com as crianças, os colegas de trabalho também se fazem essenciais para que essa experiência seja cada vez mais inesquecível. Todo aquele time, formado por profissionais não muito mais velhos do que eu, me faz perceber o quanto é bom ajudar o próximo. São pessoas que dedicam suas vidas e chegam a ficar até um ano sem salário, apenas para ver a comunidade sorrir. 


Essa é a mais nova lição que tiro nessa minha adorável aventura pela Africa, que a cada dia, já chega mais perto do fim. A experiência de virar o Tio Rodrigo, poder trocar carinho e oferecer informação à tantas crianças e, de quebra, me espelhar naquele time de colegas faz de mim um grande privilegiado. Uma experiência mágica e que devo ao Chamanculo, o grande conquistador, que acaba de conquistar mais um!





Um comentário:

  1. Adorei conhecer um pouquinho de Chamanculo. Apesar das dificuldades e do perigo (perigo esse que por aqui também convivemos), conseguimos ver histórias e inicitivas positivas! Parabéns por compartilhar com a gente e parabéns a ASSCODECHA por desenvolver um trabalho junto a essa comunidade tão carente. Beijo

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