terça-feira, 8 de janeiro de 2013

A Cabana


Tomo a liberdade de intitular esse post com o nome do livro e best seller de William P. Young, não por uma simples coincidência, mas sim por conta da grande jogada do destino, que me pegou nos últimos dias, como prefiro acreditar.



Na obra literária canadense, o personagem principal da trama, Mackenzie Allen Philip, tem a oportunidade de passar um fim de semana todo com Deus em uma cabana abandonada, local onde sua filha fora assassinada quatro anos antes. Rapidamente, aquele espaço de extrema simplicidade e repleto de estranhos sentimentos se torna o palco de um grande encontro com si mesmo, levando-o a sua mais profunda reflexão sobre vida, fé e família. Mudando valores, aprendendo a perdoar e se purificando para um novo começo.

O que chamo de uma grande jogada do destino é o fato deste livro ter chegado à minha mão justo no dia em que mudei para a "minha cabana", uma simples casa de palha na praia do Tofinho, em Moçambique, não muito longe de onde havia me hospedado na semana anterior. Na paz e na simplicidade daquele lugar o livro gerou em mim um resultado surpreendentemente parecido com o sofrido pelo personagem da ficção.

A ideia de me mudar era apenas um motivo para economizar dinheiro, então Ademir, um novo amigo brasileiro que ali morava, foi o responsável pelo convite e pelo empréstimo do livro, dizendo que faria bem para que eu possa encontrar meus Deuses antes de seguir minha jornada por aqui.

Parecia que ele sabia o que estava por vir. Ali encontrei uma casa de extrema simplicidade, com energia elétrica apenas para alimentar duas lâmpadas e uma geladeira. Do lado de fora, um pequeno quadrado de palha dava espaço a um banheiro, sem água encanada (como qualquer outro lugar da casa) apenas para as necessidades e um banho gelado de caneca. No começo, qualquer simples missão, como fazer a barba por exemplo, se tornava um grande desafio.

Ah, água de cocô era completamente "open bar" na cabana, já que o terreno era cheio de coqueiros que nos permitiam escalar (depois de MUITAS tentativas) e colher.

Aquele, por dois dias, foi o meu lar, que me permitiu relaxar, refletir sobre a vida e devorar as 230 paginas daquele livro. Ao meu ver, aquilo era pouca estrutura, mas muitíssimo conforto.

Minda e Zéca
O aconchego daquele lugar era dividido com Ademir, o meu amigo brasuca, que veio com um propósito muito parecido com meu, o "Flo", um francês mergulhador que dormia no quarto do lado e o Otávio, o Moçambicano mais prestativo que já conheci, que trabalha como caseiro do lugar. De vez em quando, normalmente quando estávamos terminando de comer, éramos brindados pela companhia de Zeca e Minda, duas crianças adoráveis que, com o perdão da comparação, pareciam aqueles cachorrinhos que aparecem quando alguém esta comendo para ver se ganha um pouco de comida.

Toda aquela timidez só abaixava um pouco a guarda quando os pegávamos no colo e dividíamos com eles o pouco de fruta e leite que normalmente faziam nossas refeições.

Apesar de dizer que tenho, e sempre tive, muita fé em Deus, nunca fui muito religioso. Faltou em minha formação algumas aulas extras de catecismo e isso me deixava com dúvidas até embaraçosas sobre a criação do homem e a reação entre Deus, Jesus e o Espirito Santo.

Porém a mistura da leitura do livro e as conversas com Ademir, que é um grande conhecedor de qualquer tipo de história, deixou tudo mais claro para mim. Não apenas sobre Deus, mas também sobre mim mesmo e minhas missões por aqui. As nossas conversas, que normalmente levantavam ideias e mais ideias para ajudar a comunidade local, me respondeu algumas perguntas sobre o que eu estou fazendo aqui e como eu posso aproveitar melhor o meu tempo.

Assim como o personagem do livro, deixei a cabana com um carinho especial pelo lugar e pelos dias ali vividos. Pronto para desafios muito maiores e encontrado com um Deus muito poderoso.

É como se toda aquela grande coincidência fosse feita de propósito para que eu pudesse me encontrar e tirar um melhor proveito do que falta em minha jornada. Era uma parada obrigatória, que me deixara pronto para os seguintes desafios.

E por falar em desafio, o próximo e mais intenso deles já tinha um nome, "A casa do Samito", o qual terei o prazer em contar com detalhes no próximo post (e video). 


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